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REVISOES DE LITERATURA

Prevalência e fatores associados à hipertensão em trabalhadores do transporte coletivo urbano no Brasil

Prevalence and factors associated with hypertension in urban public transport workers in Brazil

Luís Paulo Souza e Souza1; Juliana de Jesus Silva2; Carla Silvana de Oliveira e Silva3; Ilka Santos Pinto4

RESUMO

CONTEXTO: Os trabalhadores do transporte coletivo urbano têm grande importância social nas cidades. Estão expostos a condições de trabalho que causam adoecimento, ganhando destaque as doenças cardiovasculares.
OBJETIVO: Caracterizar a produção científica sobre prevalência e fatores associados à hipertensão em trabalhadores do transporte coletivo urbano no Brasil.
MÉTODOS: Revisão integrativa realizada em abril e maio de 2016, nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, cujo acesso se deu por meio da Biblioteca Virtual em Saúde, com a utilização dos descritores: hipertensão; pressão arterial alta; doenças cardiovasculares; saúde do trabalhador; epidemiologia; fatores de risco; e da palavra-chave "motoristas de ônibus". Foram selecionados artigos publicados entre 2002 e 2016, em português, totalizando 13 trabalhos.
RESULTADOS: A maioria dos estudos era do tipo transversal, publicada em 2006, conduzida na Região Sudeste do Brasil. As prevalências da hipertensão variaram entre 5,7 e 49,2%. Os fatores associados encontrados foram: obesidade; problemas psiquiátricos menores; baixo consumo de sal; consumo de gordura animal; idade acima de 46 anos; e vibração no ônibus.
CONCLUSÃO: A produção científica acerca do tema é restrita, reforçando a necessidade de aprofundamento no assunto. As prevalências encontradas, por vezes, foram alarmantes. Destacaram-se fatores associados relativos ao estilo de vida e trabalho, características do indivíduo e aqueles ligados diretamente ao posto de trabalho. Considerar a hipertensão como um fator ligado ao trabalho nessa classe ocupacional é importante, evidenciando a necessidade de instituir um programa permanente de melhoria da organização do trabalho para promover saúde.

Palavras-chave: hipertensão; condução de veículo; saúde do trabalhador; fatores de risco.

ABSTRACT

BACKGROUND: Urban public transport workers have major social relevance in cities. These workers are exposed to work conditions that cause illness, cardiovascular diseases in particular.
AIM: To characterize the scientific literature on the prevalence of and factors associated with hypertension in urban public transport workers in Brazil.
METHODS: Integrative review conducted in April and May 2016 in databases Scientific Electronic Library Online and Latin American and Caribbean Health Sciences Literature, accessed via Virtual Health Library, using the following keywords: hypertension; high blood pressure; cardiovascular diseases; occupational health; epidemiology; risk factors; and "bus drivers" in Portuguese. Studies published in Portuguese from 2002 to 2016 were selected, resulting 13 articles.
RESULTS: Most of the studies had cross-sectional design, had been published in 2006 and conducted in the Southeastern region of Brazil. The prevalence of hypertension ranged from 5.7 to 49.2%. The associated factors found included: obesity; minor psychiatric disorders; low salt consumption; consumption of animal fat; age over 46 years old; and bus vibration.
CONCLUSION: The scientific literature on the analyzed subject is scant, which reinforces the need for more thorough studies. The prevalence rates found were sometimes alarming. Lifestyle and individual work characteristics, as well as factors directly related to work stood out. Considering hypertension as a work-related factor is relevant for this class of workers, emphasizing the need to develop a permanent program for work organization improvement to promote their health.

Keywords: hypertension; motor vehicle driving; occupational health; risk factors.

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCV) são um grupo de doenças crônicas que assume papel importante na morbidade e mortalidade global, representando 29,2% do total de casos de morte no mundo1. No Brasil, em 2011, do total de óbitos por todas as causas (1.170.498), 68,3% foram atribuídos a doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e, mais especificamente, as causas mais frequentes foram as DCV, totalizando 30,4%2. As DCV são chamadas de doenças multifatoriais por apresentarem diversos fatores de risco, como tabagismo, colesterol elevado, diabetes, obesidade, falta de atividade física e hipertensão arterial sistêmica (HAS)3.

Destaca-se aqui a HAS como sendo um dos principais fatores de risco cardiovascular, tornando-se um grave problema de saúde pública em razão de sua cronicidade, gastos com internação e incapacidade por invalidez, o que pode, ainda, resultar em graves consequências não só ao coração, mas ao cérebro, vasos sanguíneos e rins1. Segundo dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), relativos ao ano de 2014, na análise das 27 cidades do Brasil, a frequência de HAS na população adulta foi de 24,8%4.

Alguns dos fatores de risco para a HAS já conhecidos são idade, raça, obesidade, estresse, hereditariedade, inatividade física, abuso de álcool, sexo e alta ingestão de sódio5. Contudo, há outros envolvendo a atividade laboral que também podem apresentar relação com a ocorrência desse agravo6.

Autores afirmam que, apesar de a HAS estar presente nos indivíduos das diversas faixas etárias e em ambos os sexos, há maior prevalência desse agravo em pessoas que desempenham determinadas atividades de trabalho. Relaciona-se isso a fatores como estresse, sobrecarga de trabalho e responsabilidades, elevação da intensidade do trabalho, repetitividade, nível de concentração requerido, instabilidade no emprego, cobrança por parte dos superiores e trabalho em turnos. As maiores prevalências de hipertensão são encontradas entre os trabalhadores que, frequentemente, estão nos setores secundários e terciários da economia6,7.

Nesse contexto, encontram-se os motoristas e os cobradores de transporte coletivo urbano, também chamados de rodoviários. Ao considerar essa categoria existente no Brasil, tais trabalhadores assumem papel de destaque no cenário da saúde ocupacional, uma vez que estão expostos aos diferentes fatores de risco já citados. Santos Júnior8, em seu estudo sobre o risco à saúde de motoristas de ônibus, apontou que esse grupo apresenta alta morbidade e mortalidade principalmente por doenças do sistema cardiovascular, com destaque para a hipertensão.

Destaca-se que a categoria dos trabalhadores do transporte coletivo urbano tem grande importância social nas coletividades contemporâneas e urbanizadas, tendo em vista a responsabilidade coletiva que é o transporte cotidiano de passageiros, além de ser essencial no desenvolvimento econômico e político para o progresso das cidades. Por causa disso, torna-se importante conhecer suas condições de saúde9.

Esses trabalhadores são expostos a condições de trabalho bastante específicas, demandando estudos que avaliem mais profundamente questões relacionadas às doenças crônicas, como a HAS, a fim de subsidiar negociações e políticas sociais específicas para garantia de melhores condições de trabalho e de vida dessa população9.

Assim, a presente investigação objetivou caracterizar a produção científica acerca da HAS em trabalhadores do transporte coletivo urbano no Brasil, levantando evidências disponíveis na literatura sobre a prevalência e possíveis fatores associados.

 

MÉTODOS

Trata-se de revisão integrativa da literatura, que visa reunir e sistematizar resultados de pesquisa sobre um determinado tema ou questão, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. A elaboração da revisão integrativa é sistematizada em obediência aos seguintes critérios: inicialmente, estabelecimento do objetivo específico; em seguida, formulação dos questionamentos a serem respondidos ou hipótese a ser testada; por fim, levantamento para identificar e coletar o máximo de pesquisas relevantes de acordo com os critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. O revisor, então, avalia minuciosamente os critérios de métodos empregados no desenvolvimento dos estudos selecionados, a fim de determinar se são validados metodologicamente. Esse processo resulta em uma redução de estudos incluídos na revisão. Os dados coletados são interpretados e sistematizados, e as conclusões são formuladas com base nos vários estudos incluídos na revisão integrativa10.

A busca bibliográfica se deu no período de abril e maio de 2016. Na seleção dos artigos, consideraram-se os seguintes critérios: artigos que abordassem a temática da HAS no grupo de trabalhadores escolhido; artigos publicados entre os anos de 2002 e 2016; artigos publicados em língua portuguesa; artigos disponíveis na íntegra, em formato on-line e gratuitamente.

Para a coleta de dados, foram utilizadas as bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), cujo acesso se deu por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados descritores controlados e não controlados11 para atender ao objetivo deste estudo. Os descritores controlados encontrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) foram "hipertensão arterial sistêmica", "pressão arterial", "doenças cardiovasculares", "saúde do trabalhador", "epidemiologia", "fatores de risco"; e o descritor não controlado, ou palavra-chave, foi "motoristas de ônibus". Utilizou-se "AND" entres os descritores como operador booleano.

A Tabela 1 traz a relação dos artigos encontrados e selecionados segundo descritores e palavra-chave.

 

 

Foram encontrados 76 artigos e, após a leitura minuciosa dos trabalhos, foram selecionados 13 para a realização do presente estudo. A análise dos artigos foi realizada de forma crítica, procurando explicações para os resultados diferentes ou conflitantes nos diversos trabalhos.

 

RESULTADOS

Para análise, os estudos foram organizados, conforme se observa no Quadro 1, com os seguintes itens: título do artigo; autores; ano; periódico de publicação; tipo de estudo; local do estudo.

 

 

Constatou-se que a maior parte dos artigos foi publicada em 2006 (23,1%), na Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro – SOCERJ (23,1%) e provenientes de pesquisas do tipo transversal (100,0%). Quando analisado o local de realização dos estudos, observou-se que a maioria foi realizada na Região Sudeste (46,2%).

Com vista à caracterização dos trabalhadores, os estudos encontraram médias de idade entre 30 e 59 anos; maior parte deles com tempo de profissão entre 5 e 10 anos, do sexo masculino, casado, com ensino fundamental e com renda familiar de 5 salários mínimos ou menos. Quanto às características de saúde, a maioria dos motoristas e cobradores era não fumante, não alcoólatra, sedentária, tinha excesso de peso e apresentava outras doenças, como dores nos ombros, braços e pernas, problemas de coluna, estresse e problemas de sono.

Outro aspecto analisado foi a prevalência da HAS e seus fatores associados. O Quadro 2 apresenta os resultados.

 

 

DISCUSSÃO

Notou-se que os achados relacionados à caracterização dos rodoviários foram semelhantes em todos os artigos. Em relação à idade (adultos jovens) e ao sexo (masculino), explicações para tal fato podem advir de um processo de seleção intencional por parte dos proprietários das empresas de ônibus, pois conhecem a rotina desgastante que esse tipo de ocupação impõe ao profissional, com alta demanda e pouco poder de decisão, com dificuldades de lidar com um trânsito geralmente difícil, pela necessidade de regularidade de horários, pela exposição a temperaturas nem sempre amenas e, ainda, pelo sedentarismo16.

Em se tratando do excesso de peso, o grupo ocupacional em estudo apresenta características peculiares, uma vez que está exposto à longa jornada de trabalho, à ausência de horário específico para realizar as refeições, à inexistência de opções de alimentação saudável e atividade física nas rotas de trabalho. Tais aspectos dificultam a manutenção de um estilo de vida saudável e equilíbrio do peso corporal17-19.

Observou-se que, em alguns estudos, as prevalências da HAS foram preocupantes, sendo o valor máximo (49,2%) encontrado no estudo feito em Fortaleza, Ceará6. Esse resultado reforça a necessidade de instituir intervenções nessa população, uma vez que a HAS é um dos principais fatores de risco para DCNT, como a hipercolesterolemia, diabetes e doenças cardiovasculares. Assim, representa um desafio à saúde pública13.

É importante destacar que entre os estudos, em relação à classificação da HAS, dez6,9,12-16,18-20 optaram pelo método da aferição direta. Outros três17,21,22 obtiveram os dados pelo método autorreferido. Somente o estudo conduzido com rodoviários de São Gonçalo, Rio de Janeiro15, analisou a concordância entre o resultado da HAS por método autorreferido e aferição direta, encontrando que o método autorreferido apresentou baixa sensibilidade, gerando muitos "falso-negativos". Para os autores15, o método autorreferido não conseguiu substituir adequadamente a medida pressórica direta na análise dos 559 trabalhadores, visto que houve perda da maioria dos hipertensos.

Entretanto, é importante ressaltar que a HAS por método autorreferido, apesar de ser uma limitação reconhecida pelos pesquisadores, é válida e útil, sendo sua utilização reconhecida e encorajada em estudos populacionais para a vigilância dessa enfermidade23,24.

Todos os estudos foram classificados como transversais. Sobre isso, autores9 esclarecem que há limitações em relação aos estudos transversais na área de saúde ocupacional, uma vez que existe a possibilidade do "efeito do trabalhador sadio". Esse efeito pode ser considerado nos estudos em que as prevalências foram baixas, pois a população de motoristas e cobradores poderia ser composta por indivíduos que superaram ou se adaptaram às dificuldades apresentadas pelo trabalho; ou seja, os indivíduos que são empregados provavelmente terão melhor saúde e menores taxas de doença do que os indivíduos que não são empregados. Todavia, é importante destacar que se trata de uma limitação, mas não inviabiliza a realização e a qualidade das pesquisas.

Percebe-se que a obesidade foi o fator associado mais presente nos estudos que propuseram avaliar associação. Autores25 já reconheceram que a obesidade se destaca como a variável mais fortemente associada à HAS. Destaca-se, ainda, a significância da obesidade quanto à gênese da HAS, aumentando seu poder quando associada à alimentação e ao sedentarismo, expondo os indivíduos às alterações cardiovasculares e, consequentemente, a maior risco de morbidade e mortalidade25. Assim, a obesidade, por ser modificável, ganha destaque como um dos principais fatores a serem abordados na prevenção da HAS entre o grupo estudado.

Problemas psiquiátricos menores apareceram como fator associado à HAS no estudo em Santa Maria, Rio Grande do Sul8. Esse resultado reforça a hipótese da associação entre estresse e hipertensão8,26. Ao avaliar o trabalho no ônibus, autores esclarecem que é uma atividade desgastante, sendo esse desgaste relacionado diretamente com fatores ambientais do local de trabalho. O ambiente laboral é o trânsito, o qual não oferece aos rodoviários local adequado para realizar suas tarefas, expondo-os a intempéries, como clima, condições de tráfego e do trajeto das vias e situações de violência urbana. Tais aspectos podem levar os trabalhadores ao adoecimento por depressão, ansiedade e estresse, comprometendo a ocorrência da HAS8,26. Torna-se importante o desenvolvimento de estudos que evidenciem a presença e importância dos problemas psicológicos nesta população8,26.

O baixo consumo de sal foi evidenciado como outro fator associado à HAS no estudo em Fortaleza, Ceará6. Esse dado difere de outro estudo que avaliou o consumo de sal e a HAS, o qual demonstrou que uma alimentação mais rica em gordura e sal parece ser preditora de agravos à saúde, particularmente associada aos níveis de pressão arterial27. Entretanto, é importante destacar dois pontos quanto à associação no estudo em Fortaleza6. Primeiro, a variável "consumo de sal" foi obtida por informações dos participantes e não por observação direta. Segundo, pode haver um viés do baixo consumo de sal, uma vez que, por hipótese, o trabalhador com HAS previamente diagnosticada já fazia restrição de sal quando foi incluído no estudo e, por isso, há possibilidade de viés impróprio de causa ou efeito.

Quanto ao fator associado "consumo de gordura animal"6, autores apontam que em populações cujas dietas têm excessivo teor de gordura, sobretudo as saturadas, ocorre maior número de distúrbios cardiovasculares, entre eles, a HAS28. Especificamente na prática dos motoristas e cobradores do transporte coletivo urbano, por terem seu ambiente de trabalho diferente dos demais trabalhadores, ou seja, um ambiente móvel, aberto e sem a proteção de uma construção civil, os lugares mais frequentados por esses trabalhadores durante suas poucas paradas entre um trajeto e outro, quando estão dentro do tempo previsto, são lanchonetes e bares. Esses estabelecimentos, por comercializarem habitualmente alimentos não saudáveis, podem contribuir para a ingestão de comidas com alto teor de gordura17.

Outro item que obteve associação com HAS foi "idade maior que 46 anos"18. Diante disso, destaca-se a importância da detecção precoce com vista a praticar intervenção pela adoção de estilos de vida saudáveis que possam reduzir a pressão arterial e diminuir a taxa de progressão da pressão para níveis hipertensos conforme a idade, uma vez que, em quase todos os estudos, os trabalhadores apresentavam idade maior que 30 anos.

Por fim, no estudo conduzido em Belo Horizonte, Minas Gerais22, a HAS associou-se à vibração (percepções da vibração do corpo como "às vezes" e "quase sempre/sempre") após ajuste do sexo e idade, destacando um fator que é diretamente ligado ao posto de trabalho. Em relação a esse achado, autores29 informam que trabalhadores expostos à vibração de corpo inteiro tem mais chance de aumento da pressão arterial do que os controles. Assim, estudar a exposição à vibração em trabalhadores que estão mais expostos (metalúrgicos, trabalhadores da indústria extrativista vegetal e trabalhadores do transporte, por exemplo) torna-se primordial22,29.

Os motoristas e cobradores estão expostos a condições de trabalho, por vezes, inadequadas, acarretando problemas de saúde relacionados com a atividade laboral. Ficam expostos ao ambiente interno do ônibus, o qual apresenta equipamentos, sistemas de suspensão e posição do motor, que são fontes de ruído e de vibração, além de estarem expostos ao ambiente externo, cujo estado de conservação da pista e condições do trânsito provocam ou agravam os efeitos da vibração originada em outras fontes30-32. Reconhecendo esse fator como associado à HAS, as empresas devem adotar posturas decisivas que transformem ou reduzam as condições que produzem exposição à vibração. Devem adotar mudanças administrativas ou organizacionais (manutenção periódica dos mecanismos de suspensão) e medidas de engenharia (ajuste dos assentos ou implantação de assentos ergonômicos)22, seguindo as recomendações da Norma Técnica 15.57032, a qual é bastante completa no tocante aos fatores de exposição à vibração.

 

CONCLUSÃO

A partir da análise dos estudos, notou-se que o valor máximo da obesidade identificado foi alarmante (quase 50,0%). Reforça-se a importância de intervenções nessa população, uma vez que, como já evidenciado, a HAS é um dos principais fatores de risco para as DCV. Foi possível notar também que a produção científica acerca do tema ainda é muito restrita no Brasil, mais ainda quando se avaliam os fatores associados e, principalmente, os fatores diretamente do trabalho.

Quanto aos fatores associados, destacaram-se aqueles relativos ao estilo de vida e organização do trabalho ("obesidade", "problemas psiquiátricos menores", "baixo consumo de sal", "consumo de gordura animal"); características do indivíduo ("idade acima de 46 anos"); e aqueles ligados diretamente ao posto de trabalho ("vibração do corpo no ônibus"). Considerar a HAS como um fator ligado ao trabalho em motoristas e cobradores de ônibus é importante, visando a uma melhor compreensão dos fatores associados à HAS nesse grupo ocupacional específico.

Uma vez reconhecido esse agravo na rotina laboral dos rodoviários, será possível subsidiar discussões a respeito das ações de promoção da saúde do trabalhador, tornando essa classe ocupacional dependente de um programa permanente de melhoria da organização do trabalho. Destacam-se, principalmente: apoio às demandas psicológicas que a profissão exige; incentivo à participação em atividades saudáveis; possibilidade de escolhas saudáveis na rota de trabalho; readequações e melhorias no posto de trabalho e condições dos ônibus; promoção do desenvolvimento pessoal, com vista à redução da prevalência da HAS e demais DCNT nessa população.

 

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Recebido em 13 de Junho de 2016.
Aceito em 1 de Setembro de 2016.

Trabalho realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG), Brasil.

Fonte de financiamento: nenhuma


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